• home
  • quem somos
  • fazer aqui
    • fazer agora
    • fazer eventos
    • fazer pensar
    • fazer comunidade
    • fazer sustentável
    • fazer cultura
    • fazer esporte
    • fazer gastronomia
    • fazer inovação
    • fazer o bem
    • fazer literatura
  • eventos
    • Agenda
  • colunistas
    • Albertina Camilo
    • Ciléia Pontes
    • Daniel Jacques
    • Donald Malschitzky
    • Dr. Dalisbor
    • Maria Cristina Dias
    • Mauro Artur Schlieck
    • Nanci Hass da Cruz
    • Rosa Dealtina Silva
    • Rosi Costa
    • Rita de Cássia Alves
    • Roberto Szabunia

O velho Maneca

  • Home
  • fazer literatura Fazer contos
  • O velho Maneca

O velho Maneca

Publicado por fazeraqui em 15 de março de 2020

Por Fátima Cardoso*

 

Maneca é viúvo há muitos anos, mora com a filha caçula, Guiomar. Trabalha no seu próprio bar e seus fregueses são os pescadores. A rotina deles é passar no bar do Maneca para tomar uma boa cachaça. Cada um com sua justificativa para beber. Uns para abrir o apetite, outros para tirar o frio do corpo molhado depois da pesca. Essa é a rotina dos homens da Figueira, no município de Laguna.

É tradição, uma vez por mês, ter baile no Parobé, localidade vizinha. Sábado as moças limpam a casa mais cedo para cuidarem da beleza, à tarde, nos preparativos para o baile. As amigas se reúnem para pintar as unhas uma da outra, passar a melhor roupa, fazer touca nos cabelos para ficarem lisos. Entre risos, fazem planos com quem querem dançar e namorar no baile.

Maneca, como de costume, chega em casa bêbado no início da noite. Encontra Guiomar toda bonita, pronta para o baile!

– A senhora não me saia de casa, diz ele com a voz cortada pela dormência da língua, apontando o dedo torto pela artrite em direção do nariz da filha. Nada de ir no baile hoje.

– Mas pai, todas a minhas amigas vão. Dona Rosalina vai junto pra cuidar de nós.

– Não e não, grita ele, explodindo saliva.

Maneca cambaleia até sua cama e senta-se nela. Puxa a bota do pé, mas cai pra trás. Ali mesmo dorme um sono profundo.

Guiomar espera até ter certeza de que seu pai não vai acordar.

Puxa a coberta carinhosamente sobre os ombros dele. Sai sem fazer barulho.

A noite está escura, quando as amigas se encontram na frente da igreja, a fim de irem a pé ao baile, no Parobé.

A caminhada é longa, mas divertida.

– Guiomar, te esconde, diz dona Rosalina, indo ao encontro dela no meio do salão. Teu pai está aí, te procurando.

– Meu pai? Ele acordou!

– Melhor ires com ele, ou haverá um grande escândalo!

– Ah, tu tá aqui, Guiomar. Vamos já pra casa, diz o velho Maneca, enfurecido.

Os amigos dela acalmam o velho. Afinal, essa cena é reincidente.

– Vou com o senhor, meu pai. Você vem comigo, Lurdes?

– Vou sim, responde a amiga, que dá uma piscadela para Guiomar.

Maneca caminha cambaleando estrada afora, com a lamparina de querosene acesa para iluminar o caminho escuro. De vez enquanto ele se vira para vê-las, mas elas aos poucos vão se distanciando. Ele continua sua caminhada, resmungando palavras indecifráveis.

Guiomar e Lurdes param de caminhar até o velho Maneca ficar longe da visão delas. Ficam paradas conversando por um tempo, na certeza de que ele não vai voltar.

Maneca chega em casa, ainda resmungando para a filha dormir. Ele se joga na cama e adormece tranquilo, na certeza de que a filha o acompanhou até em casa.

Guiomar e Lurdes voltam para o baile e dançam até de manhã.

 

*Fátima Cardoso nasceu em Criciúma e mora em Joinville desde 1974. Na infância suas palavras formavam poesias, sem nem mesmo conhecer o gênero. Escrever é seu refúgio no tempo! Integra a Confraria do Escritor e é cofundadora da Associação das Letras. Participou das antologias Show das Dez, a Ilha e de todas as antologias e miniantologias publicadas pela Associação das Letras, num total de 17 publicações. Obras publicadas: “Pedra Falsa” (poemas, 2007) e Devaneios (poemas, 2014).

Compartilhar

Deixe uma resposta Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

BANNER

Recentes

  • EntreAsLetras – Mensagem de um adulto menino
  • A vida é breve
  • Seu olhar

Não perca nada